Depois de percorrer um trecho de estrada de terra, uma pequena placa com a reprodução de uma pombinha avisa a chegada à Osteria Della Colombina, na Linha São Jorge, em Garibaldi. Ao entrar no porão de chão batido, como na época dos imigrantes que precisavam de ambiente escuro e fresco para maturação de queijo e salame e fermentação do vinho, o visitante percebe que viverá uma experiência de volta no tempo, convite à desaceleração.
Houve tempo em que a propriedade da família de Odete Bettú Lazzari, em Garibaldi, se mantinha com o cultivo da uva e a venda do leite. A viuvez precoce, no entanto, deixou dona Odete e as filhas Rosangela, Raquel, Roselaine e Raísa sem condições de se manterem. As três mais velhas partiram para a cidade grande, seguindo o movimento de tantas outras famílias da Serra Gaúcha: o êxodo rural.
Raísa, a caçula via como destino certo trilhar o caminho das irmãs, não fosse dona Odete, sempre com o ouvido colado no radinho de pilha, ouvir que o prefeito da cidade tinha intenção de criar a rota de turismo rural para o município: a Estrada do Sabor. Uma guinada no destino então quase certo. Raísa e a mãe passaram a se preparar e à casa para receber os turistas que deveriam chegar. Em 2001, a propriedade dos Bettú Lazzari ganhou nova vida, dessa vez alimentada com os sabores da colônia italiana.
A Osteria – pequeno local à beira da estrada que oferece comida caseira – segue a tradição italiana. Com a capacidade de 35 lugares, atendidos apenas sob reserva, recebe os visitantes em grandes mesas coletivas, o que estimula o partilhar. Todos os pratos são preparados por Dona Odete.
Para abrir o apetite, não deixe de provar o Lemoncello, licor de limão siciliano preparado com as frutas do quintal.
Abertos os trabalhos, chegam à mesa, a polenta brustolada (feita na chapa) e salame colonial.
Em seguida, um dos mais tradicionais pratos da Serra Gaúcha: a sopa de capeletti, acompanhada de pão caseiro e crem (raiz forte). Não importa se inverno ou verão, o desejo é ficar repetindo, repetindo e repetindo. Mas vale a pena resistir à tentação, por que muito está por vir.
A salada de folhas verdes adornadas com gomos de bergamota e fatias estrelares de carambola chegam à mesa com a carne lessa (carne cozida no caldo da sopa de capeletti).
É bom se deixar levar pelo preceito do slow food, aplicado na Osteria, e curtir sem pressa o ambiente e a comida. Entre um prato e outro, dá para observar os objetos antigos que adornam o local.
E, então, recomeçar com o frango de panela com molho de tomate, que vem com fatias de pão para chuchar (mergulhar, literalmente) no molho.
Tem ainda o nhoque de três queijos com molho de salame defumado.
Quando se pensa que acabou, a gula é reativada pela carne bovina assada com bacon, batata, cenoura e cebolas.
Mais a fortaia, um tipo de omelete italiano com queijo.
Mais uma voltinha pelo salão. Novas descobertas. Como a religiosidade presente.
No inverno, o fogão à lenha é aceso e abriga pinhões quentinhos.
Chega a hora da entrega total: as sobremesas. Sorvete de creme com raspas de limão siciliano e compota de pêssego
Doce de abóbora, aquele que tem casquinha crocante por fora e é macio por dentro. Se tiver sorte, pode também ter pudim de leite.
Os doces realmente transformam os visitantes em glutões e ninguém resiste a levar uns vidros para casa. São doces de frutas, geleias, compotas, conservas e vinhos. Em época de safra, é possível adquirir também o Lemoncello.
Na despedida, Dona Odete oferece a cada um dos visitantes um mimo, lembrança de sua infância, quando a mãe retirava pequenos pedaços da massa de pão para modelar para as crianças da família pombinhas com olhos de semente de uva: as colombinas. Não há como não se emocionar e prometer a si mesmo que em breve voltará.
Osteria Della Colombina
Linha São Jorge, s/n, Estrada do Sabor, em Garibaldi
Fone: (54) 3464-7755 e (54) 99121-1040