É parte da história da alimentação a busca por ingredientes que tenham características afrodisíacas. Vai daí o sucesso da escritora Isabel Allende com o livro Afrodite: Contos, Receitas e Outros Afrodisíacos. E foi esse o livro que escolhi para mais uma edição do projeto Da Estante à Mesa: Literatura e Gastronomia, no Instituto Ling, que teve como chef convidado Marcelo Schambeck.
“Comer e fazer amor são atividades tão intensamente relacionadas que, às vezes, se confundem…” A frase do chef catalão Ferran Adriá define bem a aventura que estava por vir.
A autora
Isabel Allende nasceu em Lima, no Peru, em 2 de agosto de 1942, mas a família logo voltou para o Chile a sua terra natal. Atualmente, vive nos Estados Unidos. Jornalista e escritora, é considerada uma das principais revelações da literatura latino-americana da década de 80. Sua obra é marcada pela ditadura no Chile, implantada pelo golpe militar que em 1973 derrubou o governo do primo de seu pai, o presidente Salvador Allende.
A obra
Evocando Afrodite, deusa da beleza da Antiga Grécia, Isabel Allende se dispõe a guiar o leitor pelas tortuosos caminhos da sensualidade. É um ensaio sobre afrodisíacos, a gula, a luxúria, o gosto e o tato, os pecados suculentos e os sentidos que deixam sem sentido. O livro é uma junção de receitas feitas pela mãe da autora e também uma coleção de contos em que é possível observar os efeitos provocados pela comida afrodisíaca.
Gula e luxúria
“Arrependo-me das dietas, dos pratos deliciosos rejeitados por vaidade, tanto como lamento as oportunidades de fazer amor que deixei passar para me dedicar a tarefas pendentes ou por virtude puritana.”
“Os afrodisíacos são a ponte entre a gula e a luxúria”.
“Tudo o que se cozinha para um amante é sensual, mas mais sensual ainda é quando ambos participam da preparação e aproveitam para ir tirando as roupas com malícia, enquanto descascam cebolas e desfolham alcachofras”.
Afrodisíaco
A palavra vem de Afrodite, a deusa grega do amor, nascida do mar, depois de Cronos ter castrado seu pai Uranus – representação do céu – e lançado seus genitais na água, forma um pouco complicada de fertilização, mas que nesse caso deu certo e a bela Afrodite foi procriada na espuma do mar. Ela teve mais de sete amantes entre deuses e mortais. É a deusa da beleza, do amor e da sedução.
Sob a regência de Vênus
Alguns acreditam que seja apenas uma coincidência, mas foi muito legal ler o texto da astróloga Amanda Costa na véspera do jantar. Deu um certo ânimo. Confere aí:
“Que delícia, que deleite! Estamos recebendo a visita luxuosa de Vênus –Afrodite, que transita em Touro de 15/5 a 8/6 e faz sua trilha colorindo curvas e amaciando arestas. Íntima de espelhos e belezas, muda a cor de seus véus e seduz, sugerindo novos sentidos, música tátil, afeto perfumado, olhares cheios de sabor, silêncio de seda, linho, lã, folhas estalando sob pés descalços… A natureza exuberante a fazer o seu trabalho de ser o que é: beleza que emana do coração, essência no pulso do ser e do existir, a voz de cada um. Neste signo de elemento Terra, associa praticidade e produtividade com um imprescindível toque de arte e beleza, vindo encantar nosso atarefado cotidiano e tempera com açúcar e afeto a acidez das horas difíceis. Trabalhar como as formigas e cantar como cigarras… Sim, tudo pode acontecer ao mesmo tempo agora, lindamente & lindo”.
A concepção do livro
Foi com A Casa dos Espíritos, lançado em 1982, que Isabel Allende ganhou reconhecimento do público e crítica. A obra foi filmada em 1993 por Billie August, com Jeremy Irons e Meryl Streep. Em 1995, lançou o livro Paula, que escreveu para a filha que estava em coma devido a uma doença degenerativa. Como a autora não sabia se a memória voltaria após a saída do coma, Isabel Allende resolveu contar a sua história para auxiliar a filha a lembrar dos fatos. Com a morte de Paula, Isabel passou três anos tentando se recuperar da tristeza, quando começou a sonhar com comida e soube que estava chegando ao final do tempo de luto.
“Por fim emergia do outro lado, em plena luz, com um desejo enorme de voltar a comer e a me divertir. E assim, pouco a pouco, quilo a quilo, beijo a beijo, nasceu este projeto” (Afrodite).
Um sonho
“Numa noite de janeiro de 1996, sonhei que me jogava numa piscina cheia de arroz doce, onde chafurdava com a graça de um boto. É meu doce preferido – o arroz doce, não o boto – e por isso, em 1991, em um restaurante de Madri, pedi quatro pratos de arroz doce e, para complementar, um quinto, de sobremesa. Comi todos eles sem piscar, com a vaga esperança de que aquele nostálgico prato da minha infância me ajudaria a suportar a angústia de ver minha filha muito doente. Nem minha alma nem minha filha se aliviaram, mas o arroz doce ficou associado na minha memória a consolo espiritual.”
Vocabulário de tantos sabores
“Também na comida a linguagem é afrodisíaca: comentar os pratos, seus sabores e perfumes é um exercício sensual para o qual dispomos de um vocabulário vasto, cheio de graça, metáforas, referências, humor, jogos de palavras e sutilezas”.
Os aromas
“Assim como o aroma do corpo é excitante, também o é o da comida fresca e bem preparada. Os perfumes da boa cozinha não só nos fazem salivar, como também nos fazem palpitar de um desejo que, se não é erótico, é muito parecido,. Feche os olhos e tente recorder a frangância exata de uma frigideira com azeite de olive onde se fritam cebolas delicadas, nobres dentes de alho, estóicos pimentos e tomates tenros. Agora imagine como esse cheiro muda quando caem na frigideira três fibras de açafrão e depois um peixe fresco refogado em ervas e finalmente um jorro de vinho e o suco de limão…”
Os sons que embalam a cozinha
“No caso das comidas, os sons também podem ser afrodisíacos. Tenho péssimo ouvido, sou incapaz de cantarolar Parabéns pra Você, mas posso evocar sem vacilações o crepitar do óleo quando a cebola está fritando; o ritmo sincopado da faca cortando verduras; as borbulhas do caldo fervente onde, em um instante, cairão os infelizes mariscos; as nozes ao serem partidas e a paciente canção do pilão moendo sementes; as notas líquidas do vinho ao ser vertido nas taças; o choque dos talheres de prata , do cristal e da porcelana à mesa; o murmúrio da conversa após as refeições, os suspiros satisfeitos e o quase imperceptível crepitar das velas que iluminam a sala de jantar”
Quando as mulheres cozinham
“Nós mulheres nos impressionamos com homens entendidos em comida, mas isto não é recíproco. Um homem que cozinha é sexy, a mulher não, talvez por recordar demais o arquétipo doméstico. O contraste e a surpresa são eróticos: uma moça vestida de bandido cavalgando uma moto pode ser excitante, enquanto um homem na mesma situação não passa de um macho ridículo.”
Quando o homem sabe cozinhar
“Poucas virtudes mais eróticas pode possuir um homem que a sabedoria culinária. A primeira coisa que me atraiu nele foi a incrível história de sua vida – que não se importou em me contar em nosso primeiro encontro e que inspirou meu quinto livro, O Plano Infinito –, mas a verdade é que me apaixonei várias horas mais tarde, quando o vi preparar um jantar pra mim”.
“Muito poucas mulheres latino-americanas passaram por uma experiência semelhante, porque em geral os machos do nosso continente consideram toda a atividade doméstica um perigo para sua sempre ameaçada virilidade. Admito que, enquanto ele cozinhava, eu o despojava mentalmente das suas roupas.”
Os gourmets
“Os gourmets, capazes de escolher pratos em francês em um cardápio e discutir sobre vinhos com o sommelier, inspiram respeito às mulheres, respeito que pode se transformar com facilidade em voraz apetite amoroso. Não podemos resistir a aqueles que sabem cozinhar. Não me refiro a esses caras desajeitados, ataviados com chapéus histriônicos, que se declaram especialistas e com grandes gestos chamuscam uma linguiça na churrasqueira do jardim, mas aos epicuristas que escolhem amorosamente os ingredientes mais frescos e sensuais, preparam-nos com arte e ofercem-nos como um presente para os sentidos e a alma; esses varões com classe para abrir garrafas, cheirar o vinho e vertê-lo primeiro em nossa taça para que o provemos, enquanto descrevem os sucos, a cor, a suavidade, o aroma e a textura do filé mignon naquele tom que, nos parece, utilizarão mais tarde para se referirem aos nossos próprios encantos. Necessariamente, pensamos, esses homens têm todos os sentidos aguçados, inclusive o do humor. Quem sabe… talvez até sejam capazes de rir de si mesmos!”
O cardápio
“Um jantar bem pensado é um crescendo que começa com as notas suaves da sopa, passa pelos arpejos delicados da entrada, culmina com a fanfarra do prato principal, seguido finalmente dos doces acordes da sobremesa. O processo é comparável ao de fazer amor com estilo, começando com insinuações, saboreando os jogos eróticos, chegando ao clímax com o estrondo habitual e por fim deslizando em um afável e merecido repouso. A pressa no amor deixa irritação na alma e a pressa na comida altera os humores fundamentais da digestão. As papilas gustativas, assim como os órgãos maiores e outros nem tanto, também se cansam.”
Molhos
“As mãos expressam nossas intenções: acariciam, confortam, castigam, trabalham. A mão boa para fazer um molho é como uma mão boa para fazer uma massagem, atributo valioso e escasso. Os molhos sensuais, esses que o amante guarda em segredo como se fossem um tesouro, junto com os gestos mais íntimos e atrevidos, requerem imaginação”.
Hors d’ouvres – Primeiras cócegas e mordidecas
“À mesa, representam aquilo que os beijos são para os apaixonados, uma mostra delicada do que virá mais tarde, quando a coisa ficar mais íntima. São servidos para acompanhar um coquetel ou uma taça de vinho branco antes de se passar à mesa e, em alguns casos, quando a ansiedade de amar é tão grande que não há tempo a perder, podem substituir a comida”.
Sopas – O aquecimento prévio
“Às sopas aplica-se um critério semelhante ao dos molhos: são como os preâmbulos do amor e devem ser preparados levando-se em conta todos os sentidos: aparência, aroma, sabor, textura e, em alguns casos, som. No mundo ocidental é falta de educação inclinar-se sobre o prato e fazer ruídos ao tomar a sopa, mas no Oriente seria um acinte para o anfitrião comê-la com a colher na ponta dos dedos, sem entusiasmo, nem paixão”.
Entradas – Jogos amorosos, folha a folha, beijo a beijo
“Que aconteceu com a simples salada de folhas verdes de antigamente? Parece ter desaparecido, derrotada pelos alardes da nouvelle cuisine. Foi destronada por combinações esotéricas que incluem ingredientes inusitados, como manga, polvo e macarrões chineses, temperados com molho teriyaki e queijo Roquefort”.
Pratos principais – Kama Sutra … bem, mais ou menos!
“Neste momento entramos plenamente na material culinária. Não tenha medo. Ninguém é perfeito, mesmo os melhores cozinheiros cometem erros, o importante é não admiti-los nunca. Possuo uma vasta experiência em catástrofes culinárias, posso oferecer dados práticos que Panchita jamais aprovaria. Seu lema é a execução impecável e honesta, a minha é a falta de jeito criativo.Tente navegar entre estes dois extremos, na medida do seu talento”.
Sobremesas – Final feliz
“Depois de um jantar erótico que, colherada a colherada, conduz os amantes através dos preâmbulos e jogos amorosos até o leite, deve haver um final feliz: a sobremesa. Uma sobremesa coroa a orgia íntima: mangas flambadas ao rum ou profiteroles recheados com framboesas e cobertos por um manto aveludado de chocolate…”
As plantas
“Há plantas que devido a seu perfume são afrodisíacos sutis e, como o amor, agem sem alarde, discretamente e a longo prazo. E assim como costuma acontecer no amor, as mais comuns e modestas também são as mais preciosas”.
Ervas e especiarias
Açafrão, alcaparra, anis, baunilha, canela, cardamomo, cominho, cravo, curry, endro, erva-cidreira, estragão, feno-grego, gengibre, hortelã, lavanda, louro, manjericão, mostarda, noz moscada, orégano, pimenta, pimenta caiena, salsa, sálvia, tomilho.
Certos afrodisíacos por Isabel Allende
- Abacate: Os astecas o chamavam de “ahuacat”, que quer dizer testículo. No entanto, é uma fruta “feminina”, de textura e sabor delicado, que evoca mais sensualidade nas mulheres que nos homens.
- Açafrão: Tem prestigio como estimulante no Oriente.
- Agrião: São folhinhas de aspecto inócuo e sabor um pouco picante, que os romanos chamavam de “sem-vergonha”, por suas supostas propriedades estimulantes.
- Aipo: A marquesa de Pompadour inventou uma sopa de aipo para estimular Luís XV quando o fogo da paixão estava reduzido a tristes cinzas, mas a verdade é que sua fama de afrodisíaco provém da época dos gregos e romanos.
- Alcachofra: Diz-se das pessoas envolvidas em muitos amores que elas têm “coração de alcachofra”, porque compartilham o sentimento com muitas pessoas.
- Alho: Considerada uma planta sagrada, erótica, medicinal e reconstituinte, por isso era oferecida aos atletas nas olimpíadas da Grécia. É usado como afrodisíaco há muito tempo, e a única condição é que ambos os amantes o comam, porque o cheiro impregna até a pele.
- Alho-poró: na Roma e na Grécia antigas era-lhe atribuído valor afrodisíaco, possivelmente por sua forma fálica.
- Amêijoa e mexilhão: São os parentes humildes das ostras. A forma faz lembrar os órgãos femininos. Na Itália são chamados de cozza, que também é o nome atribuído a uma mulher muito feia.
- Ameixa: Como o pêssego, na arte chinesa representa um símbolo das partes íntimas da mulher.
- Amêndoa: Na mitologia, a amêndoa surge da vulva da deusa Cibele. Associa-se à paixão e fertilidade e é o componente mais sensual da confeitaria árabe. Supõe-se que seu aroma, penetrante, persistente, às vezes levemente amargo, excite as mulheres.
- Anis: Em muitos países do Oriente Médio é usado para incitar o amor dos recém-casados e curar a impotência.
- Arroz: é símbolo de fertilidade. Quando se joga arroz nos noivos à saída da igreja com a maior inocência, poucos sabem que o gesto representa a ejaculação e o sêmen.
- Aspargos: os de talo grosso, de cor pálida e com a ponta que varia de rosada para roxa, são os mais afrodisíacos. O aspargo verde é mais popular, mas seu aspecto é menos erótico.
- Banana: associa-se à energia erótica no Tantra e é o símbolo fálico por excelência.
- Berinjela: supõe-se que tenha vindo da Índia e chegado à Europa com a invasão dos árabes à Espanha. É considerada excitante, sobretudo quando preparada junto com outros ingredientes eróticos, como alho , cebola, pimentão e algumas especiarias.
- Cardamomo: As sementes são mastigadas para refrescar a boca, não devemos esquecer que um dos piores inimigos do erotismo é omau hálito.
- Café: Excita pela cafeína, um alcalóide de efeito poderoso. Por isso, os mórmons – que tampouco bebem álcool – não o experimentam
- Camarão, lagostim, caranguejo, lagosta e outros crustáceos: são saborosos, decorativos e muito afrodisíacos, devido à grande presença de zinco, que aumenta a produção de testosterona.
- Caviar: é um dos afrodisíacos mais caros do mundo, quase tanto quanto os famosos ninhos de andorinha comidos na China.
- Cebola: fundamental em todas as cozinhas, da mais erótica à mais casta. É originária da Ásia. Caldeus, egípcios, romanos, gregos e árabes consideravam-na afrodisíaca antes que os europeus soubessem de sua existência.
- Cenoura: vulgarmente chamada de “consolo de viúva”, começou a ser cultivada na Europa no século 17 e foi trazida para a América pelos primeiros colonos ingleses. Por seu conteúdo de vitamina A e forma, atribui-se a ela o poder de exaltar a luxúria.
- Chocolate: bebida sagrada dos astecas, estava relacionado à deusa da fertilidade Xochiquetzal e só era consumido pela nobreza.
- Coco: na Índia acredita-se que aumenta a qualidade e a quantidade do sêmen e que cura doenças das vias urinárias. A uma bebida feita com leite de coco, mel e especiarias, são atribuídas propriedades estimulantes.
- Cogumelos: por seu aspecto, cor e cheiro, faz lembrar a cabeça de um pênis.
- Cominho: Sementes minúsculas que dão um sabor característico à comida oriental e, em geral, às receitas de lentilhas e feijão, cuja essência de óleo é utilizada para loções balsâmicas e filtros do amor.
- Endívia, escalora, alface: em alguns textos europeus, todas as variedades de alface são consideradas estimulantes. Em compensação, em outras regiões a infusão das folhas é calmante e antiafrodisíaca.
- Espinafre: originário da Pérsia, rico em vitaminas e minerais, fortalece o corpo e as ânsias de amar.
- Feijão: para teutões e romanos era estimulante, e a flor simbolizava o prazer sexual. A sopa de feijão tinha reputação de alimento erótico quando foi proibida no século 17 no convento das freiras de São Gerônimo para evitar excitações inoportunas.
- Feno-grego: Tem cheiro repugnante para as pessoas com chiliques, mas provoca paixões e sonhos sensuais.
- Figo: na antiga Grécia, esta fruta era um dos alimentos associados à fertilidade e ao amor físico. Na China era presenteada aos namorados e na Europa é considerada afrodisíaca por sua forma e cor; em algumas partes chama-se de figo a vulva, em outras, os homossexuais.
- Gengibre: Os cozinheiros de Madame du Berry preparavam uma mistura de gemas de ovo e gengibre que induzia os amantes desta cortesã e o próprio Luís XV à luxúria desenfreada.
- Grão de bico: Em O Jardim Perfumado, o jovem Abou el Heidja realiza a epopeia tarefa de deflorar 80 virgens em uma só noite, graças ao ímpeto obtido previamente com um suculento jantar de grão de bico, carne, cebola e leite de camelo.
- Guaraná. A fama como afrodisíaco viria do fato de que a planta apresenta propriedades tônicas e estimulantes que agastam o esgotamento físico e mental, aumentando a disposição geral do organismo
- Hortelã: Shakespeare se refere a ele, junto com a lavanda e o alecrim, como estimulante para cavalheiros de meia-idade.
- Lavanda: As sementes aromatizam perfumes e sabonetes, mas antigamente também eram usadas na cozinha como afrodisíacos.
- Louro: Os heróis romanos eram coroados com ramos de louro, símbolo da virilidade.
- Lula e polvo: Na Espanha prepara-se um prato de arroz negro com a tinta da lula, tão erótico, que não ficaria bem servi-lo para freiras e viúvas.
- Maçã: é o símbolo da tentação. A fama da maçã nas lides do amor é universal. Era usada em muitas poções mágicas, filtros e encantamentos. Os licores de maçã, como o calvados e a sidra, são estimulantes.
- Manga: como tantas outras frutas tropicais, tem odor e sabor intensos. A polpa de cor alaranjada, rica em vitaminas, é a base de muitos pratos na Ásia e na Polinésia, onde é considerada um alimento masculino, por sua forma de testículo, associação um pouco exagerada, levando-se em conta o tamanho das mangas.
- Manjericão: Ainda hoje, no vodu do Haiti, o manjericão é associado à fecundidade e à paixão.
- Marmelo: junto com a maçã, é a fruta simbólica de Afrodite, a deusa do êxtase sexual e da juventude.
- Mel: Néctar de Afrodite, dourado tesouro da terra. Sua reputação como afrodisíaco é enorme: os noivos partem em “lua-de-mel”, e em muitas culturas faz parte da cerimônia e do banquete de casamento.
- Milho: Planta sagrada entre os índios americanos, simboliza fertilidade e abundância.
- Morango e framboesa: Delicados mamilos frutíferos que, no código do erotismo, convidam ao amor. São o complemento ideal do champanhe nos rituais da sedução.
- Mostarda: É um antigo remédio contra a impotência, que consistia em esfregar mostarda no membro masculino.
- Nabo: Pode-se dizer que, junto com a cebola e o alho, é o afrodisíaco dos pobres.
- Pêra: Favorita da arte erótica por sua forma do corpo feminino, contém diversas vitaminas.
- Pêssego e Damasco: Talvez as mais sensuais entre todas as frutas, pelo seu perfume delicioso, sua textura suave e suculenta e sua cor encarnada, são representação eloquente das partes íntimas das mulheres.
- Pimenta: Traz alegria para os viúvos e alivia a impotência dos tímidos.
- Pimentão: É universalmente considerado afrodisíaco, especialmente o vermelho e de sabor picante, rico em capsiacina, um alcalóide. É o audaz componente de todos esses pratos exóticos que deixam a boca em chamas e estimulam a imaginação e o apetite para o amor.
- Pistache: Nos haréns, as mulheres consumiam com determinação tortas de pistache para manter as formas redondas e as covinhas
- Ostras: As ostras são as rainhas da cozinha afrodisíaca, protagonistas de todos os jantares eróticos registrados na literatura ou no cinema.
- Ouriços do mar: É comido na Ásia e na América do Sul, onde é considerado mais afrodisíaco que a ostra.
- Ovos: Em todas as culturas são atribuídos poderes eróticos e reconstituintes aos ovos; supõe-se que eles estimulam os mais velhos, curam a indiferença e regeneram o ventre seco das mulheres inférteis. Os ovos de codorna são vendidos como afrodisíacos.
- Romã: Em alguns textos eróticos orientais são atribuídas a ela virtudes afrodisíacas e é associada a cerimônias de fertilidade, daí provém a tradição de usar os grãos em festas de casamento, assim como se usa arroz no Ocidente. Na Grécia era a fruta cerimonial nos rituais dionisíacos, junto com a uva e o figo.
- Salsa: Alguns textos dizem que as bruxas preparavam um bálsamo para untar o corpo – sobretudo as zonas erógenas – com a finalidade de produzir alucinações.
- Sálvia: Os soldados da Grécia antiga eram recebidos com infusão de sálvia pelas suas mulheres, pra estimular a fertilidade e perpetuar a raça grega, sempre em perigo de extinção pela tradição de seguir os heróis de guerra.
- Tâmara: Uma porção equivale a uma refeição completa, dá energia e aumenta a potência viril e a sedução nas mulheres. É um dos pilares da dieta na África e no Oriente Médio, onde nunca falta nos alforjes das caravanas de camelos pelo deserto. Com o suco fermentado da coroa da tamareira prepara-se um licor afrodisíaco chamado vinho de palmeira.
- Tomilho: Desde a antiguidade tem sido amplamente usado em terapias por suas propriedades estimulantes e purificadoras. O aroma desta planta é considerado energizante.
- Tomate: A polpa vermelha, suculenta e sensual causou escândalo; confiava-se tanto em seu poder estimulante que pagavam-se fortunas por um tomate. As mulheres virtuosas rejeitavam-no, ao contrário das outras, que podiam jogar a culpa dos seus deslizes no irresistível tomate.
- Trigo: É o alimento mais antigo da humanidade e, assim como o arroz, representa a fertilidade. A forma da espiga é considerada fálica, o que prova que a imaginação humana não tem limites. Antigamente fazia-se pão com a forma de órgãos genitais para as cerimônias dionisíacas.
- Trufa: Também chamada de testículo da terra, tem cheiro e sabor intensos, e por isso é usada em pouca quantidade.
- Uva: Em nenhuma orgia que se preze podem faltar as uvas, a fruta associada ao prazer, à fertilidade, a Dionísio, Príapo (deus grego da fertilidade), Baco e todos os deuses alegres que existem em todas as tradições, porque da uva se faz o vinho e sem vinho qualquer tentativa de orgia torna-se um tédio coletivo.
As carnes
“Os povos cuja dieta contém pouca carne são os que têm a mais alta explosão demográfica e os que cultivaram com mais esmero a arte do erotismo; por isso tenho sérias dúvidas sobre o verdadeiro poder afrodisíaco da carne de mamífero. Estes pratos são mais pesados e, com o estômago cheio e em pleno trabalho de digestão, poucos podem fazer alarde de prezas amatórias. Se incluir em seu cardápio, sirva porções pequenas”.
As bebidas
- Absinto: Com fama de poderoso afrodisíaco desde a época dos gregos, porém é tão tóxico que foi proibido na França em 1915, e depois em outros países do mundo.
- Amaretto: Sua reputação erótica deve-se à amêndoa, fruto mitológico surgido do ventre de uma deusa.
- Benedictine: O nome vem de seus inventores, os monges beneditinos de uma abadia da França, varões castos, que com certeza não suspeitaram ter contribuído com outro afrodisíaco para a longa lista de tentações que a humanidade tem de suportar.
- Calvados: Originário da Normandia é um licor de maçã, intenso e aveludado como todo bom brandy, ao qual se atribui o mesmo poder estimulante dessa fruta. Antigamente, era usado como tônico para preservar a juventude.
- Champanhe: Considerado um vinho feminino e se supõe que cause maior efeito erótico nas mulheres que nos homens. Nas festas da antiga Roma imperial, enchiam-se piscinas com este vinho borbulhante, onde homens e mulheres se acariciavam nus.
- Conhaque, brandy ou armagnac: Henrique IV, da França, fê-lo entrar na moda como afrodisíaco; a idéia foi divulgada rapidamente e logo os cavalheiros começaram a tomar um cálice antes de ir para a cama.
Parfait Amour: raro licor perfumado que era servido em alguns prostíbulos refinados na França, porque acreditava-se que estimulava instantaneamente a libido. - Vinho: néctar dos deuses, consolo dos mortais, não se pode negar o poder afrodisíaco do vinho: em quantidade moderada dilata os vasos sangüíneos, levando mais sangue aos órgãos genitais e prolongando a ereção, desinibe, relaxa e alegra, três requisitos fundamentais para um bom desempenho
Os antiafrodisíacos
“Quase todas as carnes de caça são consideradas afrodisíacas, com exceção dos frangos, galinhas e perus domésticos, criaturas melancólicas que nada sabem do amor”.
“Tudo o que como parece um manjar dos deuses, exceto a beterraba, que não suporto. Estou orgulhosa de meu ódio profundo pela beterraba. No final das contas, há uma ética no ódio”.
Nouvelle cuisine
“A nouvelle cuisine pode ser interessante, mas no que se refere à comida – e também aos homens – prefiro sabores mais robustos e aspectos mais simples, como um peixe honesto que não se envergonha de sua nudez. Desde que esteja morto. Horrorizam-me os alimentos que se movem, por isso evito a gelatina e as ostras, ms esta é uma mania que tenho de combater: muitos animais do receituário afrodisíaco chegam à mesa apenas desvanecidos”.
O verdadeiro afrodisíaco
“O único afrodisíaco verdadeiramente infalível é o amor. Nada consegue deter a paixão acesa de duas pessoas apaixonadas. Neste caso, não importam os achaques da existência, o furor dos anos, o envelhecimento físico ou a mesquinhez de oportunidades; os amantes dão um jeito de se amarem porque, por definição, esse é seu destino. Mas o amor, como a sorte, chega quando não é chamado, instala-nos na confusão e se desmancha como neblina quando tentamos retê-lo. Do ponto de vista de seu valor estimulante é, portanto, luxo de uns quantos afortunados, mas inatingível para os que não foram feridos pelo seu dardo.“
O jantar leitura
O chef Marcelo Schambeck preparou um cardápio pra lá de especial à base de ingredientes considerados afrodisíacos.
O chef Marcelo Schambeck escolheu pão levain, mostarda fermentada, manteiga com curry e figo com mel para dar as boas vindas ao participantes do jantar. A harmonização ficou por conta do Armazém dos Importados, que escolheu o espumante Hermann Bossa Brut.
A primeira entrada, delicadas vieiras. Maçã verde, aipo e pepino deram refrescância ao prato. A harmonização foi com um Terranoble Chardonnay.
Olha que maravilha a louça da Alma Cerâmicas.
A segunda entrada impressionou pela combinação inusitada de ingredientes: carne cruda, morango, framboesa queijo, acompanhados pelo mesmo Chardonnay da primeira entrada.
O prato principal – camarão, grão de bico, cenoura e agrião – arrancou aplausos dos comensais.
O prato foi acompanhado pelo vinho Arrogant Frog Pinot Noir.
A pré sobremesa, um aromático sorbet de pêra com cardamomo.
À hora da sobremesa, a parceria perfeita: bolo de coco e gengibre com sorvete de baunilha, do chef Schambeck e macaron de coco com bergamota, da chef Dea Schein, do Deamacarron.
Para encerrar a noite, o café orgânico mineiro da Baden Cafés Especiais e um mimo da Dea Macarrons.