Participei dia desses de uma live de degustação de vinhos e chocolate, com a enóloga Maria Amélia, da Vinho & Arte, e com Sony Monteiro, da Chocólatras. Para o encontro fui conferir o que havia na minha modesta adega e encontrei, além de um Late Harvest Miolo 2012, duas preciosidades: um CataMayor Licor Tannat Tardío Vintage 2007 e um licoroso Don Ziero Vintage Clássico 2002. Esses dois atiçaram a minha curiosidade em saber como estariam depois de todos esses anos.
Para o nosso encontro, a Maria Amélia mandou um Porto Ruby Burmester, e a Chocólatras, trufas de chocolate meio amargo, de rum, de chocolate branco com brownie, uma tortinha de chocolate com caramelo salgado e brigadeiros de avelã. Tínhamos, ainda, umas florentines preparadas pela Sony.
O Late Harvest da Miolo foi elaborado com uvas Viognier e Gewürztraminer, da Campanha gaúcha, e passou 60 meses em barrica de carvalho. Com isso, desenvolveu aromas de pêssego em calda, amêndoas, floral, mel, baunilha caramelo. O que acredito sugeriria sobremesas mais lácteas, como crème brulée, sorvete de creme e pudim, mas o desafio era chocolate. O que, aliás, é considerado por muitos entendidos como uma das harmonizações mais difíceis.
Harmonização, no entanto, para quem não é profissional, pode ser uma divertida brincadeira. Testar, testar e testar. E, depois, escolher o que mais gosta. O Late Harvest, pra mim (não vamos esquecer que é gosto pessoal), ressaltou os sabores das florentines (com pedaços de amêndoas, castanhas, damasco, laranja e um toque de chocolate amargo, porque o amargor do chocolate estava amenizado pelo caramelo).
Também achei boa parceria com a trufa de chocolate branco e brownie. A gordura do chocolate branco encontrou outra harmonização interessante: com o Porto Ruby (de uvas Tinta Roriz e Touriga Francesa), com aromas de frutas vermelhas bem maduras, como morango e framboesa.
O Porto Ruby ficou à altura também do brigadeiro de avelã. E, na minha modesta opinião, foi o melhor para a trufa de chocolate ao leite com rum. Até porque o sabor do rum não era muito intenso.
O Tardio, Licor de Tannat, depois de passar 15 meses em barrica e apesar de guardado desde 2010 (safra 2007) ainda apresentava uma boa acidez e aromas de frutas negras, passas, notas de tostados, baunilha e chocolate. Fez bonito com a tortinha de chocolate com caramelo salgado e segurou a força da trufa de chocolate meio amargo. Confesso que gostei com as florentines.
Minha maior curiosidade era em relação ao licoroso Don Ziero, com 36 meses de barrica de carvalho e da safra 2002. Os aromas de baunilha, geleia de amora, ameixa seca e mel o recomendavam até como aperitivo. Dava vontade de tomar uns golinhos puro. Mas foi perfeito para a trufa de chocolate meio amargo e para a tortinha de chocolate com caramelo salgado. Mas o que mais me encantou foi a parceria com as florentines.
Os vinhos doces, ditos de sobremesa, estão meio que esquecidos. Muito pelo preconceito de alguns, que acreditam que só vinhos secos merecem destaque à mesa. Recomendo que deixem as resistências de lado e brinquem com o paladar, façam suas descobertas. Eu já fiquei pensando em convocar as amigas para essa mesma degustação com os nossos premiados espumantes Moscatel. Tintim.