A melhor lembrança que tenho da Bahia é de seus aromas. O perfume do caju secando ao sol, deixando escuras as encostas de Morro de São Paulo e se transformando em passas que desmanchavam na boca, numa doçura que mantinha bem longe aquele travo natural da fruta in natura. Sem falar no defumado das castanhas queimadas na brasa para estalar entre os dentes de turistas encantados com tanta crocância.
Um cheiro forte e desafiador de mangaba madura, de manga pisada e esquecida apodrecendo pelas ladeiras do Pelourinho, o odor nauseabundo de peixe frito nas carrocinhas de rua de Salvador, sem falar das carnes expostas no Mercado Modelo.
Em Ilhéus, o perfume da paixão: do cacau ao chocolate. A doce fragrância, desconhecida e ao mesmo tempo tentadora, da fruta recém partida. O acre da amêndoa sendo torrada para revelar o aroma familiar e apreciado do chocolate em estado líquido, que desafiava a chocólatra em resistir a passar o dedo nas bordas escorridas com a massa escura.
Na entrada surpreendente no restaurante Amado, ali ao lado do Elevador Lacerda, com o ambiente tomado pelo cheiro das moquecas e da farofa de banana da terra.
Em Arembepe, a lagosta afogada em manteiga preparada pelo pescador que a trouxe direto das pedras ainda viva. Do suco de graviola que fazia a alegria das manhãs ou da água de coco verde refrescado no rio quase ao lado do mar.
De Porto Seguro, a lembrança é de bobó de camarão, de xinxim de galinha com muito amendoim torrado por cima, do coentro que refresca qualquer receita. Mas também da jaca madura, mole, que se esborracha no chão e se transforma de aroma em odor quando abandonada ao sol quente.